Arcano II - A Alta Sacerdotisa na versão contemporânea de Crowley/Harris
II
Pureza é viver somente para o Supremo; e
o
Supremo é Tudo; sê tu como Ártemis para
Pã.
Lê no Livro da Lei, e atravessa o
véu da Virgem.
Aleister Crowley
O Livro de Thoth
"Pura, exaltada e graciosa influência penetra
a matéria. Por conseqüência, mudança, alternância, aumento e diminuição, flutuação.
Há, entretanto, uma suscetibilidade de ser levado pelo entusiasmo; pode-se ficar
“lunático” a não ser que se mantenha cuidadoso equilíbrio." [Idem]
Arcano II, A Alta Sacerdotisa, ou "A Papisa" no Baralho Medieval.
Atribuição: A Lua
Letra: Gimel (significa "Camelo")
Corresponde ao nosso C e ao nosso G.
Valor numérico da letra: 3
Posição na Árvore da Vida: 13º Caminho
Unindo Kether (A Coroa) e o Sol (Harmonia, Beleza)
O que diz Crowley sobre este Arcano em seu Livro de Thoth:
(Notas: O texto original não é ilustrado. As ilustrações escolhidas ou montadas se limitam apenas a exemplificar visualmente o conteúdo do texto. As notas de Crowley forma inseridas entre colchetes, assim como notas de identificação para as Estações citadas no texto. Amantis)
II. A
ALTA SACERDOTISA
por Aleister Crowley
Esta carta se refere à letra Gimel, que
significa camelo (o simbolismo do camelo é elucidado na seqüência).
A referência da carta é à Lua. A Lua (sendo o símbolo feminino geral, o símbolo da segunda ordem correspondendo ao Sol como o
yoni corresponde ao lingam) é universal e vai do mais alto ao mais baixo. Trata-se de
um símbolo que reaparecerá freqüentemente nestes hieróglifos. Mas nos primeiros trunfos a concorrência é com a natureza abaixo do Abismo; A Alta Sacerdotisa é a primeira carta que liga a Tríade Superior [Estações 1, 2 e 3] com a Héxade [Estações 4, 5, 6, 7, 8 e 9 - em amarelo na ilustração] e seu caminho, como é mostrado no diagrama, produz uma conexão direta entre o Pai em seu aspecto mais elevado e o Filho em sua manifestação mais perfeita [ O Sol].
Este caminho está em equilíbrio exato no Pilar do Meio. Há
aqui, portanto, a mais pura e mais exaltada concepção da Lua (no outro extremo da escala está o Atu XVIII, q. v.).
Ártemis, numa cópia Romana
A carta representa a forma mais espiritual de
Ísis, a virgem eterna, a Ártemis dos gregos.
Ela está trajada tão-somente do véu brilhante de luz. É importante para a alta iniciação considerar a Luz não como a perfeita manifestação do Espírito Eterno, mas, preferivelmente, como o véu que oculta este Espírito. Ela assim o faz sumamente efetiva devido ao seu brilho incomparavelmente deslumbrante. * [ *Nota de Crowley: A tradição das melhores escolas do misticismo hindu possui um paralelismo preciso. O obstáculo final à Iluminação plena é exatamente esta Visão de Efulgência Amorfa.]. Assim ela é luz e o
corpo de luz. Ela é a verdade atrás do véu de luz. Ela
é a alma de luz. Sobre os joelhos dela está o arco de Ártemis, que é também um instrumento musical pois ela é caçadora e caça por encantamento.
Agora que se considere esta ideia como a partir de detrás do Véu de Luz, o terceiro Véu do nada original. Esta luz é o mênstruo da manifestação,
a deusa Nuit, a possibilidade da Forma. Esta manifestação primeira e maximamente espiritual do feminino toma para si um correlativo masculino ao formular em si
mesma qualquer ponto geométrico a partir do qual se contempla a possibilidade. Esta
deusa virginal é então potencialmente a deusa da fertilidade. Ela é a ideia por trás de toda a forma; logo que a influência da tríade desce abaixo do Abismo ocorre a conclusão da ideia concreta.
Os capítulos seguintes, de The Book of Lies (falsely so-called), [O Livro das Mentiras (falsamente assim chamado) (NT).] pode
auxiliar o estudante a compreender essa doutrina por meio de meditação:
DIABOS DE PÓ
No Vento da mente, nasce a turbulência chamada Eu.
Ele rompe; inunda os pensamentos estéreis.
Toda vida é sufocada.
Este deserto é o Abismo onde está o Universo.
As Estrelas são
apenas cardos nesta aridez.
Contudo, este deserto é apenas um lugar amaldiçoado num mundo de felicidade.
Agora e novamente, Viajantes cruzam o deserto; eles vêm do Grande Mar, e para o Grande Mar eles vão.
Enquanto caminham, eles derramam água; um dia
eles irrigarão o deserto, até que floresça.
Vê! cinco pegadas de um Camelo!
V.V.V.V.V.
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No fundo da carta, há figuras nascentes, cristais, sementes, simbolizando o início da vida.
No meio, está o Camelo que é mencionado no
capítulo cotado acima. Nesta carta, está a ligação entre os mundos arquetípico e criativo.
Considerou-se este caminho, até aqui, pelo
fato de ele descer direto da Coroa; mas para o Aspirante, ou melhor, para o Adepto que já
está em Tiphareth [O Sol], tendo alcançado o Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo
Guardião, este é o caminho que leva para cima; e esta carta, em um sistema chamada de
“A Princesa da Estrela Prateada”, simboliza o pensamento (melhor: a radiância
inteligível) do Anjo. Em resumo, este é um símbolo da mais alta iniciação. Mas é uma condição da iniciação que suas chaves sejam comunicadas, por aqueles que as possuem, para todos os verdadeiros aspirantes. Esta carta é, portanto, um glifo muito peculiar do trabalho da A∴A∴
Uma ideia dessa
fórmula é dada neste outro capítulo do Livro das Mentiras:
A OSTRA
Os Irmãos da Α∴Α∴são um com a Mãe da Criança.
Os Muitos são adoráveis ao Um, como o Um o é
para os Muitos.
Este é o Amor Destes; criação-parto é a Felicidade do Um; coito-dissolução é a Felicidade de
Muitos.
O Todo, assim combinado com Estes, é Felicidade [Bliss].
Nada está além da Felicidade. [Bliss]
O Homem delicia-se ao unir-se com a Mulher; a
Mulher em parir uma Criança.
Os Irmãos da Α∴Α∴são Mulheres: os Aspirantes à Α∴Α∴são Homens.
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É importante refletir que esta carta é inteiramente feminina, inteiramente virginal pois representa a influência e o meio de manifestação (ou, de baixo, de obtenção) em si mesma. Representa possibilidade em seu segundo
estágio sem qualquer começo de consumação.
Cumpre observar, em particular, que as três letras consecutivas, Gimel, Daleth e Hé (Atu II, III, XVII) exibem o símbolo feminino
(Yin) sob três formas compondo a Deusa Triuna. Esta trindade é imediatamente
seguida pelos três Pais correspondentes e complementares, Vau, Tzaddi, Yod (Atu IV, V,
IX). Os trunfos 0 e I são hermafroditas. Os catorze trunfos restantes representam estas
Quintessências Primordiais do Ser em conjunção, função ou manifestação.
Aleister Crowley
O Livro de Thoth - excerto
Editora Madras, 2000
em tradução de Edson Bini
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