quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

-16... O TAROT E O UNIVERSO na visão de Aleister Crowley



Notas: 
1. "O Tarô e o Universo" é uma das partes do Livro de Thoth, escrito por Aleister Crowley. Será postado em partes devido a sua extensão.

2. O texto original não é ilustrado (à exceção para a Árvore da Vida exibindo o Cosmos Chinês, presente também na obra impressa). As ilustrações  escolhidas limitam-se apenas a exemplificar visualmente o conteúdo do texto. Graças a esta tarefa eu pude finalmente compreender o que é a roda do Zodíaco. Com certeza você também, amigo leitor. 

Amantis (Paulo Medina)    







O TARÔ E O UNIVERSO

Aleister Crowley


    O TARÔ é uma representação pictórica das forças da natureza, concebida pelos Antigos segundo um simbolismo convencional. 

      O Sol é uma estrela. Ao redor dele giram diversos corpos chamados planetas, inclusive a Lua, um satélite da Terra.



      Esses corpos giram numa única direção apenas. O sistema solar não é uma esfera, mas sim uma roda. Os planetas não permanecem em alinhamento exato, oscilando por uma certa extensão (relativamente pequena) de um lado do plano para o outro. Suas órbitas são elípticas.
    Os antigos imaginaram essa roda com clareza maior do que as mentes modernas estão habituadas a fazer. Prestaram particular atenção no aro imaginário. Dentro dos limites desse aro, perceberam que as Estrelas Fixas à distância se achavam, de um modo especial, ligadas ao movimento aparente do Sol. 



       Deram o nome de Zodíaco a esse aro ou cinturão da roda. As constelações fora desse cinturão não pareciam ter muita importância para a humanidade, porque não se encontravam na linha direta da grande força giratória da roda (T. A. R. O. = R.O.T.A. =  roda).


TEORIAS DOS ANTIGOS 

       1. Na antiguidade, supunha-se que a Terra era o centro do universo. Como o céu estava acima da Terra - eles não o compreendiam como estando igualmente abaixo dela  -  era o mesmo tido como sendo de natureza divina.  E, como reconheciam imperfeições e irregularidade nos assuntos mundanos, acharam que os movimentos dos corpos celestes, que observados por eles pareciam regulares, deviam ser perfeitos.

          Principiaram, então, algum pensamento a priori. Seus matemáticos tiveram a ideia de que um  círculo  era uma figura  perfeita.  Conseqüentemente,  (afirmaram com característico raciocínio teológico que) todos os corpos celestes tem que se mover em círculos [nota de A.C.: "Eles não compreendiam que o círculo constitui apenas um caso da elipse: aquele no qual os focos coincidem."]. Essa hipótese religiosa causou enorme transtorno para os astrônomos. À medida que suas medições se tornaram mais amplas e precisas, descobriram ser cada vez mais difícil reconciliar a observação com a teoria, ou ao menos fazê-lo sem colocar a si mesmos num tremendo incômodo em seus cálculos. E assim inventaram  ciclosepiciclos para explicar os movimentos observados.

          Por fim, esse aborrecimento incitou Copérnico a sugerir que seria realmente bem mais conveniente (se apenas a ideia não fosse tão perversa) imaginar que o Sol, e não a Terra, fosse o centro do Sistema. 

       Em matemática não há fatos fixos. Bertrand Russel diz que nessa matéria “ninguém sabe do que está falando e não interessa a ninguém se ele está certo ou errado”. Por exemplo, comece supondo que a Lua é o centro imóvel do Universo. Ninguém é capaz de contradizê-lo; simplesmente se alteram os cálculos para o Ajustamento. A objeção prática que se faz  é que isso não facilitaria o trabalho dos navegadores. 

      É importante ter essa ideia em mente, pois, caso contrário, não se conseguirá compreender o espírito inteiro da moderna ciência-filosofia. Ele não visa a verdade, não concebe a verdade (em qualquer sentido ordinário da palavra) como possível; visa, sim, à conveniência máxima. 


       2.  Voltando à figura do Sistema Solar, o Sol é o Cubo da Roda, o Planeta mais afastado está no seu aro. E além, mas lateralmente dentro deste aro, se encontram as doze constelações do Zodíaco. 



               Por que doze ? 

         A grosso modo, a primeira divisão do círculo é em quatro, em conformidade com as estações observadas. Essa escolha pode também ter sido influenciada pela divisão dos elementos em quatro: fogo, ar, água e terra (estes não significando os objetos atualmente entendidos por estas palavras). (...) Talvez porque eles julgassem necessário introduzir um número tão sagrado como o três em tudo que fosse celeste, ou, ademais, porque aconteceu que as constelações observadas eram naturalmente divididas em doze grupos, daí dividiram o zodíaco em doze signos, três para cada estação.

         Observou-se que a influência do Sol sobre a Terra mudava à medida em que ele passava pelos signos. Assim, aconteciam coisas absolutamente simples, tais como a medida do tempo entre o nascer e o pôr do sol.
          Quando se afirma que o Sol entra no signo de Áries, quer-se dizer que se uma linha reta fosse traçada da Terra ao Sol e prolongada até as estrelas, essa linha passaria através do início daquela constelação. Suponha, por exemplo, que alguém observa a lua cheia no primeiro dia da primavera e será capaz de ver, atrás dela, as estrelas do início de Libra, o
signo oposto a  Áries.
            Observou-se que a Lua levava aproximadamente vinte e oito dias para passar de cheia a cheia, e a cada dia foi atribuído aquilo a que se deu o nome de  casa.  Supôs-se que a misteriosa influência da Lua se alterava em cada casa. Esta teoria não diz respeito diretamente ao Tarô, mas deve ser mencionada para ajudar a esclarecer uma certa confusão que está na iminência de complicar a questão.

     3.  Astrônomos antigos calcularam que o sol levava trezentos  e sessenta dias para fazer a volta do zodíaco. Este era um segredo dos sábios rigorosamente guardado, de sorte que o ocultaram sob o nome divino Mithras, que soma de acordo com a convenção grega (M - 40, I - 10,  Th - 9, R - 100, A - 1, S - 200) 360. Uma melhor observação demonstrou que 365 dias eram mais precisos, de modo que decidiram chamá-lo de Abraxas (A - 1, B - 2, R - 100, A - 1, X - 60, A - 1, S - 200). Quando os outros descobriram isto, se corrigiram alterando a ortografia para Meithras, que soma, como Abraxas, 365. Nisto ainda persistiu um erro de não menos de seis horas, de modo que no decorrer dos séculos o calendário se manteve incerto. Só assumiu sua forma presente no tempo do Papa Gregório. 

       O ponto a ser destacado em tudo isso, na divisão que fizeram do círculo do zodíaco em 360 graus, é que se trata de uma base conveniente para o cálculo.



         Deu-se o nome de decanato a cada medida angular de 10 graus; destas há, assim, trinta e seis, dividindo cada signo do zodíaco em três seções. Supôs-se que a influência do signo era muito rápida e impetuosa no primeiro decanato, poderosa e equilibrada no segundo, espiritualizada e cadiva no terceiro.
     Uma curta digressão. Uma das mais importantes doutrinas dos antigos foi aquela do macrocosmo e microcosmo.  O ser humano é ele mesmo um pequeno universo; é uma cópia minúscula do grande universo. Esse argumento foi, é claro, empregado em sentido contrário, de modo que as características  das qualidades dos três decanatos no signo, dadas acima, se deram provavelmente graças a uma analogia com o curso de uma vida humana.

      4. As observações que acabamos de fazer dão uma ideia razoavelmente completa da apresentação arbitrária, ou majoritariamente arbitrária, do cosmos, feita pelos antigos, a começar pela divisão em quatro elementos. Estes elementos permeiam tudo. Eles argumentariam algo semelhante a respeito do Sol. Diriam que ele era principalmente fogo por razões óbvias; mas teria também em si a qualidade aérea da mobilidade. A porção aquosa se mostraria por seu poder de criar imagens e a porção terrestre por sua imensa estabilidade.
     De maneira análoga, em relação a uma  serpente, considerariam seu poder de morte, ígneo; sua rapidez, aérea; seu movimento  ondulante, aquoso; e seu hábito de vida, terrestre.
    Essas descrições são, evidentemente, bem inadequadas. Têm que ser completadas pela atribuição de qualidades planetárias e zodiacais a todos os objetos. Assim, o Touro, no zodíaco, é um signo da terra, e este é o signo central dos três através dos quais o Sol passa durante a primavera, no hemisfério Norte (outono, no Hemisfério Sul). Mas a natureza bovina é também gentil e, partindo daí, eles afirmaram que Vênus rege o signo de Touro. A vaca, ademais, é o principal animal produtor de leite, de sorte que fizeram dela a Grande Deusa Mãe, identificando-a, assim, com a Lua, a Mãe do céu, tal como o Sol é o Pai. Representavam essa ideia ao dizer que a Lua é exaltada em Touro, ou seja, que ela exerce o aspecto mais benéfico de sua influência quando está nesse signo.

     5.  É inicialmente confuso, mas muitíssimo instrutivo e   esclarecedor quando o princípio é inteiramente assimilado, observar como todos esses  elementos  se subdividiam e se juntavam. Somente se pode alcançar a  compreensão de qualquer um desses símbolos quando se produz um quadro composto dele e de todos os outros em proporção variável. Assim cada um dos planetas oferece uma certa porção de sua influência a qualquer objeto. Este hábito de pensamento conduz a um entendimento da  unidade da natureza (com sua exaltação adequada e espiritual) que dificilmente pode ser atingido de qualquer outro modo; produz uma harmonia interna que finda numa aceitação da  vida  e da natureza.

      Agora, é quase tempo de se analisar e definir as características tradicionais desses símbolos, mas talvez seja melhor, primeiramente, construir sobre uma base segura pela consideração do número dois, o qual até aqui não foi levado em conta.
       Há somente duas operações possíveis no universo: análise e síntese, dividir e unir. Solve et coagula, diziam os alquimistas. 

        Se alguma coisa deve ser mudada, ou se divide um objeto em duas partes, ou se soma uma outra unidade a ele. Este princípio repousa na base de todo o pensamento e trabalho científicos. 

     O primeiro pensamento do homem de ciência é  classificação, medição. Ele diz: “Esta folha de carvalho é semelhante àquela folha de carvalho; esta folha de carvalho é diferente daquela folha de faia”. Enquanto não se apreender este fato, não se começa a compreender o método científico.  Os antigos estavam plenamente cientes dessa ideia. Os chineses, particularmente, baseavam toda a sua filosofia nessa divisão primária do  nada  original. Era preciso começar com o  nada; caso contrário, surgiria a seguinte questão: - “de onde veio este algo que se postula?” E assim eles escreveram a equação: zero é igual a mais um mais menos um, 0= (+ 1) + ( - 1).



        O mais um chamaram de Yang, ou princípio masculino; o menos um chamaram de Yin, ou princípio feminino. Estes então se combinam em proporção variável, dando a ideia de Céu e Terra em perfeito equilíbrio, o Sol e a Lua em equilíbrio imperfeito, e os elementos sob forma desequilibrada (ver o diagrama o cosmos chinês).  Este arranjo chinês é, assim, décuplo, e se revela admiravelmente equivalente ao sistema que foi anteriormente examinado.



                http://www.american-buddha.com/cult.magickwotears.13.htm

        6. O antigo esquema dos elementos, planetas e signos zodiacais foi resumido pelos qabalistas em sua  Árvore da Vida.  Tal identidade entre os dois sistemas foi mascarada até muito recentemente pelo fato dos chineses prosseguirem com seu sistema de duplicação, transformando assim seus oito trigramas em sessenta e quatro hexagramas, enquanto os sábios da Ásia ocidental juntaram seus dez números na Árvore da Vida por meio de vinte e dois caminhos. [Nota de A. C. : "Este autor descobriu este fato no desenrolar de seu estudo - incompleto ainda - do Yi King."]


        Os chineses, deste modo, têm sessenta e quatro símbolos principais em comparação com os trinta e dois da Árvore,


 mas os  qabalistas dispõem de uma concatenação de símbolos capaz de interpretação e manipulação muito sutis, que também é mais apropriada para descrever as relações internas de seus  elementos.  Ademais, cada um pode ser multiplicado ou subdividido à vontade, como convier.


           Aleister Crowley, O Livro de Thoth
           
           tradução usada: a de Edson Bini, 
                      Editora Madras, 2000
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    Nota: Na postagem O TARÔ E O UNIVERSO - 2 Crowley entrará numa análise mais detalhada da Árvore da Vida.

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