Arcano XVII, A Estrela, na versão contemporânea de Aleister Crowley e Lady Frieda Harris
XVII
"Verte água sobre ti mesmo: assim serás
uma Fonte para o Universo.
Descobre tu mesmo em toda Estrela.
Conquista toda possibilidade."
Aleister Crowley
O Livro de Thoth
Esperança, ajuda inesperada, clareza de
visão, realização de possibilidades, discernimento espiritual. Com maus aspectos:
erro de julgamento, devaneio, desapontamento.
Atribuição: Aquário (um signo de Ar)
Letra: Hé
Corresponde ao nosso "H" e ao nosso "E"
Valor da letra : 5
Caminho na Árvore da Vida: 15º
O Arcano XVII, A Estrela, ocupa o 15º Caminho na Árvore da Vida.
Ele une Netuno, Sabedoria, e O Sol, Harmonia (ou Beleza).
O que diz Crowley sobre este Arcano em seu Livro de Thoth:
XVII.
A ESTRELA
por Aleister Crowley.
Esta carta é atribuída à letra Hé, como foi
explicado em outra parte [um link será feito para esta passagem do Livro]. Refere-se ao signo zodíaco do Aquário, o aguadeiro. A ilustração
representa Nuit, nossa Senhora das Estrelas. Para a compreensão do significado
pleno desta sentença é necessário compreender o primeiro capítulo d’O Livro da
Lei.
A figura da deusa é mostrada em manifestação,
quer dizer, não como o espaço circundante do céu mostrado no Atu XX, onde
ela é a pura ideia filosófica contínua e omniforme. Nesta carta ela é
definitivamente personificada como uma
figura de aparência humana. É representada segurando
duas taças, uma delas dourada, sustentada bem acima de sua cabeça, da qual ela verte
água (estas taças se assemelham a seios, como está escrito: “o leite das estrelas de
suas tetas; sim, o leite das estrelas de suas tetas”).
O universo é aqui decomposto em seus
elementos últimos (é-se tentado a citar da Visão do Lago Pasquaney, “O Nada com cintilações. .
. mas que cintilações !”) Atrás da
figura da deusa está o globo celeste.
Salientando-se em meio ao seus
componentes vê-se a Estrela de sete pontas de Vênus, como se
declarando que a principal característica de sua natureza é o Amor (ver novamente a descrição
no capítulo I, d’O Livro da Lei). Da taça dourada ela verte essa água etérea, que
é também leite e azeite e sangue, sobre
sua própria cabeça, indicando a eterna renovação
das categorias, as possibilidades inesgotáveis da existência.
A mão esquerda, abaixada, segura uma taça
prateada, da qual ela também verte a bebida imortal de sua vida (esta bebida é a Amrita
dos filósofos indianos, o
nepenthe e ambrósia
dos gregos, o alkahest e a
medicina universal dos alquimistas, o
sangue do Graal; ou melhor, o néctar que é a mãe deste
sangue. Ela o despeja na junção de terra e água. Esta água é a água do grande Mar de
Binah; na manifestação de Nuit num plano inferior ela é a Grande Mãe, pois o Grande
Mar está sobre a praia da terra fértil, como representado pelas rosas no canto direito da
ilustração. Mas entre mar e terra está o “Abismo”
e este é ocultado pelas nuvens que rodopiam como um desenvolvimento do
cabelo dela: “... meu cabelo, as árvores da
Eternidade”. (AL. I, 59)
No canto esquerdo da ilustração está a estrela de Babalon, o Sigillum da
Fraternidade da A. A., pois Babalon é ainda uma outra
materialização da ideia original de Nuit; ela é a Mulher Escarlate, a Prostituta sagrada que é
a senhora do Atu XI. Desta estrela, atrás da própria esfera celeste brotam os raios
encaracolados de luz espiritual. O próprio céu nada mais é que um véu ante a face da deusa
imortal.
Percebe-se que toda forma de energia nesta
ilustração é espiral. Zoroastro diz: “Deus é ele, tendo a cabeça de um falcão, tendo uma
força espiral”. É interessante notar que este oráculo parece antecipar o presente Aeon, o
do Senhor de cabeça de falcão, e também da concepção matemática da forma do universo tal
como calculada por Einstein e sua escola. É somente na taça inferior que as
formas de energia emitidas exibem características retilíneas. Nisto é possível descobrir a doutrina que afirma que a cegueira da humanidade à toda a beleza e maravilha do
universo é devida a esta ilusão de retidão.
É significativo que Riemann, Bolyai e
Lobatchewsky pareçam ter sido os profetas matemáticos da Nova Revelação, pois a
geometria euclidiana depende da concepção de linhas retas, e foi somente porque
descobriu-se que o postulado paralelo era incapaz de prova que os matemáticos começaram a conceber
que a linha reta não tinha verdadeira correspondência com a realidade. [Nota de Crowley: "A linha reta não é nada mais do que o
limite de qualquer curva. Por exemplo, é uma elipse cujos focos estão uma distância
“infinita” separados. Aliás, tal uso do calculo é o único modo certo de assegurar a “retidão”.]
No primeiro capítulo d’O Livro da Lei, a
conclusão tem importância prática. Concede a fórmula decisiva para a obtenção da verdade.
“Eu dou inimagináveis alegrias sobre a terra:
certeza, não fé, enquanto em vida, sobre a morte; paz indescritível, descanso, êxtase; e
Eu não peço algo em sacrifício.”
“Mas amar-me é melhor que todas as coisas: se
sob as estrelas noturnas no deserto tu presentemente queimas meu incenso diante de
mim, invocando-me com um coração puro, e a chama da serpente ali, tu virás um
pouco a deitar em meu seio. Por um beijo, tu então estarás querendo dar tudo; mas quem quer que dê uma partícula de
pó perderá tudo nessa hora. Vós reunireis bens e provisões de
mulheres e especiarias; vós vestireis ricas jóias; vós excedereis as nações da terra em
esplendor e orgulho; mas sempre no amor de mim, e então vós vireis à minha alegria. Eu
vos ordeno seriamente a vir diante de mim num robe único e cobertos com um rico adorno
na cabeça. Eu vos amo! Eu anseio por vós! Pálido ou purpúreo, velado ou
voluptuoso, Eu, que sou todo prazer e
púrpura, e embriaguez no sentido mais íntimo, vos
desejo. Colocai as asas e elevai o esplendor enroscado dentro de vós: vinde a mim!
"Em todos os meus encontros convosco dirá a
sacerdotisa - e seus olhos queimarão com desejo, enquanto ela se mantém nua e regozijante
em meu templo secreto - A mim! A mim! estimulando a chama dos corações de
todos em seu canto de amor.
"Cantai a extasiante canção de amor a mim!
Queimai perfumes a mim! Vesti jóias a mim!
Bebei a mim, pois eu vos amo! Eu vos amo!
"Eu sou a filha de pálpebras azuis do Pôr do
Sol; eu sou o brilho nu do voluptuoso céu noturno.
"A mim! A mim!
"A manifestação de Nuit está por um fim.”
[Livro da Lei, Capítulo I]
Do Livro de Thoth, Ed Madras, 2000
em tradução de Edson Bini.
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